Apresentação
O site Encontraponto é uma coleção de páginas com análises, ensaios e imagens sobre os fatos do passado e do futuro do presente, referidos principalmente ao país em que vivemos. Propõe-se a entender os fatos sociais como fatos históricos e as respectivas ideias, visões de mundo e teorias orientadas a interpretá-los, conferir sentido e direção. Os fatos e as concepções ideológicas são apreciados como expressões particulares, mais ou menos abertas, da luta de classes típica de nossa sociedade, ferreamente enraizada no processo de acumulação de capital.
O encontro de diversos pensadores, mediante autoria ou reprodução, tem como ponto de unidade o materialismo histórico. Crenças e opiniões dos agentes sociais são igualmente relevantes na medida em que, dada sua adesão às realidades imediatas e expectativas de mobilizar forças, venham a captar, mesmo de modo fragmentado, a sinfonia organizada subterraneamente. Assim, acreditamos compartilhar no blog o empenho comum em desvendar nos movimentos da velha toupeira, a escavar sob a superfície aparentemente sólida da sociedade em que vivemos, os sinais do porvir.
Seguimos pensando nos termos em que Marx, em O 18 Brumário de Luís Bonaparte (1852) situou os desafios das revoluções proletárias do século XIX, as quais “se criticam constantemente a si próprias, interrompem continuamente seu curso, voltam ao que parecia resolvido para recomeçá-lo outra vez”. Rosa Luxemburg teve uma clara e dolorosa consciência desta verdade em 1916, diante da traição da socialdemocracia alemã ao princípio do internacionalismo proletário. Escreveu então, em A crise da socialdemocracia: “a crítica e a autocrítica constituem o ar e a luz sem o qual o proletariado revolucionário não pode viver”.
As revoluções do século XXI terão ajustes de contas a fazer, precisarão lidar com os escombros do que foi o marxismo. A história do movimento operário é indissociável de uma avaliação do passado: nesse sentido, destacamos a inestimável contribuição de Georges Haupt, transcrita na Biblioteca socialista.
Contudo, se podemos afirmar conhecer o papel desempenhado pela teoria de Marx e de Engels no movimento operário do século XX, pouca atenção conferimos ao papel deste movimento na formação e desenvolvimento da teoria. E isso significa assumir a autocrítica de um ponto de vista militante. Assim, temos de aprender a aprender. Para tanto, contamos com os subsídios de Göran Therborn, em texto incluído na Biblioteca socialista, e de Ernesto Martins/Érico Sachs. Deste último, transcrevemos a seguinte passagem do documento de Meias verdades não resolvem (página 8), escrito em maio de 1977 e publicado no Acervo/Centro de Estudos Victor Meyer em 2009:
...não são somente os operários que teriam algo a aprender, mas igualmente a vanguarda teórica. O processo não pressupõe um papel passivo do proletariado, disposto a absorver as sabedorias trazidas de fora por nós, mas a vanguarda teórica igualmente tem de aprender a lidar com as formas de luta e de organização que o movimento vivo desenvolve espontaneamente.
Sem as ações espontâneas das massas não haveria luta de classe, pois não fomos nós que a inventou. (…) Lênin nunca subestimou a ação espontânea das lutas de classe. Ele combateu as tendências que idealizaram o espontaneísmo, que queriam dar-se por satisfeitas com essa forma de luta ou que esperavam que as lutas espontâneas se transformassem por si só em luta consciente pelo socialismo. Aí ele via o papel indispensável do partido revolucionário da classe operária. Mas uma vanguarda teórica e autonomeada só tem possibilidade de se desenvolver e crescer em direção a um partido, quando sabe interpretar corretamente o movimento espontâneo da classe.